"Vazios de uma alma esquecida"
Imaginou uma criança brincando no terreiro e encontrando aquela preciosidade secreta, leria vazios de uma alma e não entenderia nada, chamaria a mãe na cozinha e contaria sobre o seu tesouro encontrado, a mãe leria as cartas e as guardaria como lembranças encontradas de uma alma vazia e esquecida, apenas isso e elas passariam de geração em geração naquela família...
Imaginou outra hipótese, uma adolescente de aproximadamente 17 anos rodeava a casa como ela fizera naquela tarde, seus olhos estavam vermelhos, seus cabelos negros bagunçados, estava descalço, pegou alguma coisa escondida na área, uma faca, ela segurava a faca e voltava em direção a porta da sala, sentou-se debaixo da arvorezinha que enfeitava o terreiro e chorava incontrolavelmente, deitou a cabeça sobre os joelhos e brincava de passar a faca sobre seu pés, levantou os olhos passou com força o lado contrario da faca sobre os pulsos, e a lançou sobre a terra úmida, percebeu que perfurava algo de baixo da terra, houve dor dentro si ao imaginar que poderia estar perfurando o casco de um inocente tatu que dormia de baixo da terra fresca, tirou a faca, e teve imensa curiosidade em descobrir o que havia estragado seus possíveis últimos momentos de vida, começou a desenterrar e revirar a terra, suas mãos frágeis e sujas alegraram-se ao encontrar uma caixa de plástico, ressecada e desbotada, havia uma perfuração na tampa e ao abrir deparou-se com papéis dobrados, por cima escrito a seguinte frase: "Vazios de uma alma esquecida" abriu um sorriso ao ler a frase em pensamento, pois era justamente o que sentia, vazio, vazio na alma, sentia-se como uma alma esquecida e aniquilada, mais que rapidamente descobriu-se todas elas e pôs-se a lê-las, percebeu que a autora das cartas contava seus vazios de alma descrevia derrotas e vitórias, as vezes chorava com as palavras as vezes sorria com elas, tampou o buraco que ficara na terra, e esqueceu-se a faca jogada debaixo da árvore foi até seu quarto e terminou de lê-las com maravilhosa paciência, a autora na época com 22 anos chorava na carta seguinte e sentia-se como alma vazia e fragilizada, abandonada sobre o teto do mundo, escrevia a alguém que não conhecia contava sua vida como se tivesse certeza que alguém com as mesmas dores as encontraria um dia, levantou-se da cama e as guardou novamente do jeito que as havia encontrado, ao pô-las percebeu alguma coisa no fundo da caixa, era um pingente, pequeno e brilhante uma tartaruguinha com olhinhos de vidro que a olhava como se tivesse vivenciando aquele momento, ela sorriu ao coloca-la no fundo novamente, olhando para a perfuração da caixa pensou em reconstruí-la, mas desistiu ao pensar que sempre se lembraria daquele momento, abriu a última gaveta da cômoda e a guardou. voltou para a sala e lembrou-se da faca jogada no terreiro foi à pia a lavou e a guardou na gaveta da cozinha, olhando para as unhas sujas de terra olhou no espelho e prendeu o cabelo num coque, pegou a toalha e foi para o banheiro, em seguida viu na mesa da sala um livro, Tempos de neve, esse era o título, deitou-se no sofá e pôs -se a lê-lo durante toda a tarde, esperando o retorno da mãe....
Ela gostou da segunda hipótese, e com um sorriso meigo no rosto enterrou a caixa, sentada na porta da sala admirou ao notar que alegrava-se ao ver o sol se pôr, e mais uma vez sorriu, fechando a porta da sala.
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