sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Eu suponho

Ela chega acompanhada de um rapaz, trás consigo uma criança de aproximadamente 1 ano e meio de idade, está grávida, short jeans com o bumbum ligeiramente de fora, sua batinha rodada que não cobre toda a barriga mostra algumas estrias, marcas de quase todas nós... O rapaz que suponho ser seu marido a acompanha nas compras, a criança grita e praticamente ordena alguma coisa... Os gritos altos me fazem olhar o caixa ao lado em que ela passava suas compras, muitos doces, fraldas, Mucilon, iogurtes, achocolatado, e leite, e muitas outras guloseimas para criança...

Tinha uma expressão não muito alegre uma expressão que não sei explicar, mas não era alegria faltava alguma coisa, e como faltava... Suponho que ainda nem chegara aos 23 anos, já tinha um filho, e esperava outro, suponho que tenha sonhos ou pelo menos tinha, sonhos interrompidos pela gravidez indesejada(suponho) . Percorri meus pensamentos na suposição da sua infância, uma criança magrela, de pernas longas e finas, e quando perguntada o que queria ser quando crescer, responde que queria ser médica... Faltava frequentemente á escola na sua adolescência, e quando era questionada pela mãe rebelava e saía de casa para curtir com os amigos, na escola nas aulas de português e história, abaixava a cabeça e dormia durante os 50 minutos, seu caderno não possuía anotaçõs ou exercícios... Só Recordava a consciência de que estava na escola quando entrava na porta da sala o professor baixinho e careca que a fazia sorrir, com suas piadas....

Redação ah! para fessor pra que eu escrever sobre José Alencar se ele já está morto?! pra quê escrever sobre defunto?

- Mas ele foi um dos maiores escritores brasileiros,
- foda-se pra ele era rico...
Durante todo o percurso da redação os erros ortográficos riscados pelo professor, "vose" "promeça",  "agente", "inguinorante" ... Abandonou de vez a escola quando estava no segundo ano do ensino médio... Nunca se interessou por faculdade ou coisa assim, até porque nem terminara o ensino médio... Terminar pra quê? Ouvir os professores encher o saco? Aquela mulher não sabe de nada, tanta prosa ruim, ela falando sobre a faculdade do filho aff... O governo é uma bosta mesmo... Só João mesmo pra aguentar, como ele aguenta escrever tanto? como ele consegue ficar a aula inteira com os olhos colados no professor? È João vai ser alguém na vida... Isso não é pra mim, eu devia ter nascido rica não gosto de estudar, eu gosto de sair curtir os amigos, conversar, ficar com os caras, como João aguenta ficar em casa estudando pra prova... Eu tenho que me casar com um homem rico mesmo pra me sustentar... saí fora casar com pobre? Saía para as baladas no frio da meia noite as pernas de fora... e foi em uma dessas baladas que conheceu o carinha foi amor a primeira vista.... Se relacionaram tiveram um filho foram praticamente obrigados a se casar, primeiro o cara não era tão mal assim, pra deixar a moça mãe solteira, segundo ela gostava dele, aliás se realizaria para ela um sonho de mulher se casar ser feliz.... Com os R$1000,00 reais do cara iriam sobreviver, alugariam um barracão, e viveriam "felizes"

Ela queria ser médica aliás o que fez dissipar aquele sonho de criança? Sim ela era pobre nunca teria dinheiro para pagar mensalidades de medicina imagine uma filha de empregada doméstica...

Quando sua mãe saía para trabalhar ficava na casa da tia, sua tia que ela adorava, ela ouvia cada musica louca viu! e quando ouviu aquela garotinha de 5 anos cantando borboletinha disparou em gargalhadas e disse que ela não era mais criança para ouvir tanta infantilidade em uma só música, e disse que iria lhe mostrar o que era música boa, pegou um CD em uma das gavetas da cômoda aumentou o sonzinho no último volume , e rebolou até o chão naquele batidão a magrelinha não entendia nada mas gostava da vibração que o chão fazia... Achou engraçado como o bumbum da tia ia retorcendo, a letra ela não entendia, sei lá o cantor repetia a mesma coisa toda hora era tão diferente da borboletinha que fazia chocolate para vizinha, ela imaginava uma linda borboleta azul sobrevoando pela cozinha mexendo uma grande panela de chocolate quente e na sua pequenina sala cor de rosa a vizinha borboleta esperava o chocolate ficar pronto, era tanto colorido, tantas borboletas... Agora vem esse aí com esse tal de dan, dan, dan, senta, senta... O que significa? Pra quê a música ia falar sobre uma pessoa se sentar? Mas é engraçado como a tia dançava aquela música... ela até a ensinou, aquele som ficou nos seus ouvidos o dia inteiro... a borboletinha foi se afastando aos poucos de sua mente, Os livrinhos de chapeuzinho Vermelho já não lhe interessavam mais, aliás nem outros, livros é coisa de gente idiota, que não sabe aproveitar a vida, (dizia a tia) aos poucos ela começou a entender as músicas, entendeu até cedo demais... E como não entenderia, as coisas que a tia falava também com as amigas né, não via a hora de chegar na escola e contar para as colegas, E aos poucos foi percebendo que não precisava ser médica para ser feliz, ela adorava dançar, beijar, ficar e isso já a fazia feliz se as outras garotas soubessem o que estavam perdendo...

Ela conheceu o cara ele era tão, sei lá tão homem... Tiveram um filho no primeiro mês de relacionamento... Resolveram se amigar, Pouco tempo depois engravidou novamente, nossa criança custa caro hein? Fraldas e mais fraldas e agora outro, só o marido trabalhava... Se lembrou de João o que teria acontecido com ele hein? o filho da doceira, o inteligente da sala, será que conseguiu passar na federal? sim João era pobre como ela como conseguiria pagar faculdade de engenharia? Ah sim ele conseguiu uma bolsa no tal do ENEM, sei lá PROUNI nunca fui de prestar atenção nessas coisas, é eu não disse que João seria alguém na vida?

Sou interrompida pelas minhas suposições um cliente me aguarda no caixa... Uma caixa de leite Itambé, 2,09... Mais alguma coisa senhora?.... ainda ouço a criança gritar por alguma coisa a mãe sorri ao ver as pirracinhas do filho, acha engraçado.... Será que se completará o ciclo vicioso?

O celular do pai toca... Um funk.... Um batidão será que a criança de um ano e meio ainda se lembra da cobrinha do pé de limão?